terça-feira, maio 29, 2012

A verdade e a mentira

Eu tenho um problema. Na verdade, não seria um problema, podia até ser uma virtude, mas nem sempre é, porque os outros nem sempre consideram como tal.
Eu não minto. Minto. Eu raramente minto, muito raramente.

E quando minto, é porque algo exterior me obriga a mentir, e eu tenho que fazer um enorme esforço para isso (pode-se mesmo dizer que me dá trabalho). Por exemplo, com a minha avó, sou forçada a ter que omitir ou meio que aldrabar algumas coisas, mas isso é porque a minha avó é uma rica senhora, mas não compreende que eu tenho o direito de viver a minha vida, sair à noite, não dormir em casa ocasionalmente, entre outras coisas. A minha avó, de tanto me querer fazer uma boa menina (muito castradinha), acabou por fazer com que eu fosse um bocado má menina com ela. E demorou algum tempo para que eu adquirisse estes hábitos de aldrabice, mas a minha falta de paciência para ralhetes que não fazem sentido resultou nisso. É que se eu fosse moça mal comportada, com tendência para maus caminhos, mas eu já dei provas mais que suficientes da minha maturidade. E, se por acaso até fosse mal comportada, os ralhetes nesta altura também não serviriam de nada.

Mas, àparte da minha pseudo-aldrabice, que também é bastante rara, com a minha avó, eu sofro do mal oposto. Eu sou demasiado franca. Maneira que muitas vezes, se me perguntam alguma coisa, eu respondo a verdade.

Se uma pessoa me deu um perfume, que não era suposto ser para mim, mas por proximidade, acabou por ser uma prenda que eu não fazia questão nenhuma de receber, e se essa pessoa me perguntar "então e gostaste?", eu respondo "eeer, não faz muito o meu género". E, a ver bem, eu até fui suavezinha, podia ter dito "Não, não gostei mesmo nada. O cheiro não tem nada a ver comigo. Mas também oferecer-me um perfume que nem sequer foi pensado para ser para mim (aliás, foi confundido com perfume de homem), às vezes dá barraca."
E nestas ocasiões, alguém me segreda ao ouvido "opá, dizias que gostavas e pronto.". E eu respondo "mas eu não gostei! estaria a mentir à cara podre se dissesse que tinha gostado".

Acho que esta minha característica de ser franca, ou desbocada, faz com que às vezes as pessoas se chateiem comigo. Felizmente, este tipo de coisas também não acontecem com frequência.

Gostava de fazer a experiência de, durante um mês, o mundo ser um sítio onde ninguém mentisse. E gostava de perceber se isso faria com que o mundo fosse um sítio melhor, ou se o mundo precisa mesmo destas aldrabices e cinismos para se manter mais ou menos estável.

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