domingo, outubro 28, 2012

Domingo

Hoje, por duas vezes, o meu subconsciente pregou-me uma partida.
Acordei em alvoroço às 7h30 da manhã e novamente às 10h, com o despertador e das duas vezes, fiquei em pânico ao pensar "Que horas são? F... queres ver que adormeci e já estou a faltar ao trabalho??"
Por duas vezes tive que falar sozinha e relembrar-me "Calma Carolina, é domingo...Lembras-te? Ontem foste encharcar-te em doces à feira de doçaria e à noite estiveste num bar cheio de miúdos da secundária. Tem calma, ainda não passou o dia de domingo, podes dormir mais um bocadinho."
Gostava muito que o meu cérebro conseguisse fazer a perfeita dissociação entre tempo de trabalho e tempo de não-trabalho. Já estou bastante melhor, é um exercício que faço continuamente.
Mas há certas coisas que por vezes não consigo ignorar...Nomeadamente um certo espírito feudal que envenena as nossas aldeias, alimentado pela submissão e ignorância do restante povo.
E esta dominação revela-se em tudo: nas juntas de freguesia, nos locais de trabalho, nas cerimónias religiosas, talvez mesmo nas conversas de café.
E quando reflicto sobre isto, mais uma vez me parece que os direitos que eu, enquanto mulher, trabalhadora e cidadã tenho hoje, não foram adquiridos pela vontade do povo mas talvez por vontade de algumas pessoas, citadinas ou rurais, que constituem uma minoria e conseguiram mudar as coisas.
Fico continuamente perplexa por ver que muitas pessoas não percebem que deveriam ter direito a mais liberdade e a mais respeito. Por ver a sua apatia, o acatar de ordens sem questionar, ficando-se apenas pelos comentários em sidebar. Fico surpreendida por não entenderem as entrelinhas e as chantagens baixas. Eu própria às vezes também sou ingénua, deve ser da idade. Mas a ingenuidade muda-se. A resignação não.
É por isto que eu agradeço, e não quero saber se isto parecer foleiro, aos antepassados e antepassadas que fizeram com que hoje tenhamos mais liberdade, que fizeram com que as mulheres percebam que têm direito à escolha e que não são escravas do trabalho doméstico só porque nasceram com um pipi...
Infelizmente, parece que ainda há muito trabalho por fazer em todos os campos.
Depois de tanta mudança e de tanta luta, continuo a ver mulheres que acham que têm a obrigação de trabalhar, cuidar dos filhos e da casa e que o marido pouco faz ("o que é que se há-de fazer?"), continuo a ver trabalhadores sem o menor poder de opinião sobre o que se passa na sua empresa/instituição, continuamos a ver-nos cidadãos, com pouco poder de decisão sobre aquilo que a nós diz respeito.
E isto tem que acabar.
Mas para isso também acho que temos que ser melhores, mais informados, mais respeitadores, mais abertos e menos centrados só no nosso ego. E nisso também considero que ainda temos um longo caminho a percorrer.

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