Como boa pertencente ao sexo feminino, também escrevi diários. Sei que nem tudo o que é moça escreve diários, mas tenho cá na minha cabeça que é um hábito comum. Os meus diários não eram propriamente diários, eram cadernos onde escrevia quando me apetecia. Tanto podia escrever 3 vezes por semana, como 3 vezes por ano.
Embora cheios de disparate, dúvidas existenciais e exacerbação de sentimentos, aquilo a bem ver, é uma espécie de arquivo sentimental e de crescimento. Para pessoas com défices de memória, dá algum jeito. O blog também tem um bocado esse propósito (posso sempre ir ver o que é que escrevi em 2006 e encher-me de vergonha por coisas que escrevi, ou pelo contrário, pensar "epá, olha que com 15 anos já era uma criatura com alguma inteligência"). A única diferença é que o blog só tem 10% da minha intimidade (mas ando a esticar-me...). Devia ter optado por um blog anónimo, mas pronto, agora já é tarde.
Se for espreitar o primeiro diário (que data para aí de 2003), constata-se que os conteúdos sobre os quais mais me debruço são o sucesso ou insucesso que tenho com o sexo oposto. É incrível a quantidade de tempo que uma pessoa gasta a pensar como é que há-de atrair a atenção dos outros e outro tanto a lamuriar-se do porquê de não a conseguir.
Acho que os adultos fazem o mesmo, só que de outras formas. Para mim palavras como poder (e mesmo "carreira"), ou querer ganhar o primeiro prémio do euromilhões são quase sinónimos de "não consigo viver sem a admiração dos outros e não encontro outra forma de lá chegar".
Isto tudo para dizer que agora os conteúdos seriam diferentes. Estou a pensar comprar um novo caderno, que o anterior já ficou entupido há meses, ou talvez esperar pelo natal para que me ofereçam um bonito (querido namorado, espero que estejas a perceber a dica), com cadeado claro, daqueles que basta lá enfiar um objecto qualquer afiado e aquilo abre-se num instante, mas de qualquer modo, dá a ideia de que o que lá está dentro está guardadinho.
E já sei qual vai ser a minha primeira rubrica. Estou só indecisa em relação ao nome que lhe vou dar, se devo chamar-lhe "Zangas com a minha família", "A família é o melhor e o pior que nós temos" ou "A minha família dá cabo de mim". Será que no futuro também vou ter uma filha (ou um filho) que vai escrever um diário com a mesma rubrica? Bolas.
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