Este ano decidi continuar com a tradição de dar os bolinhos. Há dois ou três anos que deixámos de dar, ou porque nos esquecíamos de comprar coisas, ou porque não estávamos em casa. E a acrescentar a isso, talvez o factor mais preponderante seja mesmo o meu diminuto sentimento de comunidade (não sei se será por ter sido assediada por um fulano, ou por ter cachopas a armarem-se em bullies, ou por terem espalhado boatos acerca de nós quando viémos para cá morar...enfim). Mas desta vez decidi virar as costas ao passado (como diz o Timon) e dar umas guloseimas do Lidl (que são as melhores) aos cachopos.
Só me tocaram 3 vezes à porta este ano (ao que parece, os cachopos já levavam os sacos cheios quando íam a subir a rua). E das 3 só atendi duas, porque o primeiro toque na campainha foi tão tímido que não foi suficiente para me arrancar do meu sono profundo.
Posto isto, enquanto esperava que tocassem novamente à campainha, pus-me a divagar do quão maravilhoso era quando estava eu no lugar deles...
Aqui há uns bons anos atrás, eu e os meus primos ficávamos na casa dos meus falecidos avós, numa aldeia chamada Ribeira de Boas Eiras (também conhecida cá por casa como a Ribeira das Baboseiras eheheh) e na manhã do Dia dos Finados, lá íamos nós com uns sacos do pão, tal como os cachopos daqui, tocar porta-a-porta, sem precisarmos de escolta.
Adorava andar com eles a bater às portas (e desta vez, sem fugirmos, ehehe) e a trautear o típico "Bolinhos, bolinhos, à porta dos seus santinhos!" (nem sabíamos ao certo porque é que dizíamos isto, mas queríamos lá saber) a receber broas de vários tipos, dinheiro e outras guloseimas (raras) e o melhor disto tudo é que ficava tudo misturado no mesmo saco (se a ASAE visse isto, até se benzia). Já sabíamos qual era a senhora que fazia as melhores broas e assim que chegava a vez de ir à Coelha (não sei porquê, mas chamávamos assim a uma senhora imigrante de França), parecia que tínhamos fogo no rabo, íamos a correr para casa dela (que ficava mais afastada das outras casas) porque era a que nos dava barras de chocolate inteiras a cada um e se fosse preciso ainda nos dava 100 escudos (isto de ser imigrante tem muito que se lhe diga).
Quando chegávamos a casa, despejávamos os sacos em cima da mesa e contávamos o dinheiro (tenho ideia que até o dividíamos irmamente), eventualmente até fazíamos algumas trocas. Eu só gostava mesmo das broas "daquela" senhora, que reconhecia pela casa, de resto, ainda hoje, coisas impregnadas em óleo (ou azeite, vá) e polvilhadas com excesso de açucar, só mesmo as bolas de berlim.
Era bonito. As boas memórias são pedras preciosas, devemos guardá-las bem guardadas (eu guardo todas, até as menos boas, porque essas também são importantes).
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