O debate que houve na mha fac este mês sobre o aborto contribuiu bastante para a confirmação da minha opinião acerca daquilo que eu acho que é o mais sensato. Estou de acordo com quem diz que o aborto é mau. Estou igualmente ciente dos síndromes pós-aborto que podem ocorrer, contudo, não acho tolerável penalizarem uma mulher por o fazer.
E porquê ?
Inicialmente, quando uma pessoa me disse que já fizera três abortos na sua vida e não se arrependera de os fazer porque na altura não tinha as condições criar uma criança, mas me disse que era contra o aborto, eu fiquei francamente confusa. Mas tornou-se bastante claro. Está mais que rebatido o porquê do ‘sim à despenalização’ e não ‘sim ao aborto’. De qualquer forma, convém frisar ainda mais uma vez: Ninguém é a favor de abortos. Se são, ou sofrem de um pancada cerebral qualquer ou então não estão bem conscientes daquilo que estão a dizer. O ponto aqui é a penalização que uma mulher sofre por ter feito um aborto clandestino. Ora vamos lá pensar, se uma mulher resolve fazer um aborto, não me parece que o faça de ânimo leve. Acho que sabe minimamente os riscos que corre, todos eles. Se mesmo perante todos os obstáculos ela o faz clandestinamente…é porque realmente não tem outra hipótese. Se, como soube, há miúdas em tamanho desespero de causa que chegam a esmurrar a barriga até abortarem ou porem-se numa banheira a passarem por agua gelada, agua a escaldar e assim sucessivamente…Este tipo de situações vão continuar a acontecer. Perturba-me muito mais pensar que há raparigas a fazer isto do que uma situação em que é retirado um feto ainda mal desenvolvido com segurança de um útero pertencente a uma mulher que não o deseja ter.
Não é clara a barreira entre o que é ou não um ser humano, mas mesmo conhecendo o tamanho de um feto de 10 semanas, continuo a não mudar a minha opinião. Porque isto do tempo também tem que se lhe diga, pois não é com dois dias que uma mulher se apercebe que está grávida…Muitas vezes, só se apercebem quando já passaram as 5, 6 semanas. Conheci um caso de uma jovem que só soube que estava grávida aos três meses, porque continuava a ter menstruação. Não sou médica, por isso não sei ao certo se isto é verídico, mas acredito que isso possa ocorrer. De qualquer forma, há ainda outros casos a ponderar. Por exemplo: houve e continua a haver de facto uma onda de informação acerca dos contraceptivos, etc. Mas essa informação chega mesmo a todos ? Quantos indivíduos, e não me refiro somente a jovens, estão tão mal informados acerca disto ? Responsabilidade deveria haver sim, deveriam realmente saber… era obrigação, mas acho que há factores que deveriam ser tomados também em conta (sociais, económicos e outros). Basta abrir uma revista nas páginas dedicadas ao assunto para perceber que há imensa gente de todas as idades a dizer barbaridades e a perguntar coisas absurdas. Não vale a pena estar aqui a citar exemplos. O que se vê aqui é que há um desnorteamento incrível. Eu própria as vezes não sei coisas que deveria saber perfeitamente (bom, a memória também interfere ai mas isso já é um aparte). A diferença entre mim e muitas dessas pessoas é que eu quando não tenho a certeza de algo, automaticamente retiro informação, porque tenho óptimos recursos e sei bem como os usar. Mas muita gente não tem ou não sabe. E se calhar quando se tenta informar fá-lo com alguém, que por seu turno, também não percebe do assunto.
Com isto tudo, e mais uma vez me baseando no que uma pessoa do contra me disse, “já que elas sabem ter relações, também têm que saber o que é que isso implica”. Mas infelizmente esta sensibilização, tal cm eu disse, não chega a todos. Há que incutir esta responsabilidade nos jovens. Mas isso não é tarefa fácil. Já agora, puxando um pouco a brasa à minha sardinha, sou muito a favor de uma interrupção voluntária da gravidez com um acompanhamento psicológico. Ou seja, se o aborto for despenalizado em Portugal, este DEVE ser acompanhado sempre de um apoio psicológico competente antes e após a interrupção, realçando o factor da responsabilidade nos seus actos e o apoio emocional para as mulheres que possam vir a ter algum síndrome pós-aborto no futuro (segundo um estudo, isto pode ocorrer em algumas mulheres). Quem melhor do que um psicólogo/a para encaminhar uma situação delicada como esta no seu rumo adequado?
Já agora, ao contrário do que alguns afirmam, não é por o aborto ser despenalizado que o número de abortos vai aumentar abruptamente. Isso é uma idiotice. Há estudos que comprovam isso mesmo. Além disso, ninguém defende o aborto como um método anticoncepcional. Isso é outra idiotice.
Adiante…Uma miúda engravida. Seja pq teve relações quando apanhou uma bebedeira, seja porque foi realmente estúpida e não usou preservativo, seja porque é ingénua e o gajo com quem teve lhe incutiu que ‘só desta vez não faz mal’, seja pq pensou que naquele dia, por algum motivo, não haveria problema, seja porque usou preservativo e este se rompeu sem ela ter dado conta e por não ter verificado, seja por qualquer motivo for. Ela engravidou, só se apercebeu depois do tempo e não quer ter o filho. Não quer porque é uma miúda e porque nunca na vida saberia tratar de uma criança, não quer porque sabe que não tem condições para isso…Por que é que esta criança vai nascer, forçosamente? Porque é que vem parar uma criança ao mundo que, ainda nem esta bem concebida e já não é desejada ? E q por não ser desejada, que o mais provável é ser criada em condições que a levarão a ser infeliz, miserável, criminosa, inconsciente, etc. ? Para quê? O feto está no útero da mulher…não é o feto da sociedade. É a sociedade que a vai criar e educar convenientemente? Com muita sorte, pode ser que sim. Mas, como é sabido, e disto tenho eu a certeza, uma criança precisa de um pai e de uma mãe. Porque isso de por os bebes numa casa de adopção é tudo muito bonito, mas não me parece que funcione como um conto de fadas na prática. Automaticamente, o bebe não vai ter aquilo de que mais precisa. O amor e carinho de um pai e de uma mãe. Aliás, como é sabido, o processo de adopção em Portugal não funciona às mil maravilhas. Quantos são os pais que vão a casas de adopção escolher o seu futuro filho como quem escolhe uma geleia na prateleira do supermercado? Ou, por outro lado, quantos são os casais que esperam anos para ter o filho que nunca puderam ter e, que só após muita papelada e muito tempo desperdiçado conseguem finalmente adoptar essa criança ? Ou pior ainda, quantos são os casais que após isso tudo recebem a infeliz notícia de que ‘pelo motivo x, não pode adoptar esta criança’ ?
É a mulher que decide ! É o seu corpo, é o seu feto, é ela quem decide se quer ou não ter o bebé. Não se trata de feminismo exacerbado. Trata-se de respeito. Não vivemos supostamente numa democracia? Ela tem o direito de escolher…sobretudo sobre uma coisa que lhe diz respeito a ela….e só a ela ! Lá porque tu tens uma opinião contra, não és tu que tens o direito de ditar se aquela criança tem que nascer ou não.
Muito honestamente, não vejo vantagem nenhuma em forçar uma mulher a ter um bebé quando ainda não é tarde demais. Pelo contrário, só vejo inconvenientes.
Outra coisa: quem está a lutar pela penalização das mulheres que abortam e pelo parto forçado, está não só a desrespeitar essa pessoa, como está igualmente a ser hipócrita e injusto. Pois, sabendo perfeitamente que já aqui ao lado o aborto é legal e quem tem posses faz um aborto sem qualquer entrave, é de uma pura hipocrisia continuar a impedir muitas mulheres que não podem ir ao estrangeiro. O tão aclamado ‘ninguem tem direito de tirar a vida a ninguém’ fica também à deriva. É um contrasenso. Não deixam que as mulheres abortem com segurança e higiene, mas sabem perfeitamente que continuarão a haver abortos clandestinos, feitos em varão de escada, que provocam infecções graves que podem levar à morte. Então, que raio de direito à vida é este?
Por último, gostava só de acrescentar que: eu sou uma despassarada em algumas coisas, mas com um assunto destes não brinco. Sou muito responsável no que toca à precaução que devo tomar. Afinal, se algo inconveniente acontecesse…eu seria a principal afectada, independentemente do resto. Contudo, e isto é absolutamente verdade, acidentes acontecem ate mesmo com quem tem precaução. São raros, mas acontecem. E se por infeliz acaso isso me acontecesse, iria desmoronar a minha vida por completo, deitar abaixo todos os objectivos que tenho. Tornar-me-ia numa pessoa completamente diferente, e mesmo que ficasse feliz depois com o bebé, isso nunca iria compensar o facto de ter estragado a minha juventude. Teria que me preparar para algo para o qual não estou minimamente preparada. Agora, porque raio é que não hei-de ter essa oportunidade?
Têm vocês, pessoas do contra, direito a estragar a minha vida e a impedir-me de fazer algo que me diz respeito a mim e não a vocês ? Eu digo: Não, não têm.
Já agora, deixo-vos com algo que já vejo há pelo menos dez anos, escrito numa parede na minha terrinha:
« Se o papa engravidasse, o aborto era legal. »
Bom, mesmo depois disto tudo, não disse todos os aspectos referentes a este assunto, mas talvez ainda o venha a escrever.
Nota: Já escrevi isto em Dezembro, mas cm me faltava confirmar uma coisa, ainda nao tinha postado. editado 8 fev.
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