segunda-feira, outubro 07, 2013

Que parva que eu sou

Bem, uma vez ouvi uma amiga minha a falar sobre qualquer coisa relacionada com as hormonas que fazem com que uma mulher se esqueça das dores de parto que teve ao ter o primeiro filho e o cérebro fixa-se só na parte boa da coisa e vai daí, faz-se outro filho.
Creio que se passa algo semelhante entre mim e a área da restauração. Eu já estive em vários sítios, talvez não tantos que justifiquem saber muito sobre o assunto, mas talvez já fossem um bom indicador para saber como é por cá por Portugal. Tenho também a experiência da Disneyland para contrastar.
Pois bem, sabendo eu desde já que a coisa é cansativa e é preciso gostar mesmo da área, porque parece fácil mas não é, ainda assim, eu continuo a surpreender-me.
Turnos, horários repartidos e não repartidos, períodos de experiência e avaliação que podem ir até um mês, subsídios de alimentação que se dissipam quase por completo nos descontos, desrespeito pelas horas diárias estipuladas em acordo (e pela lei), zero fins de semana, uma única folga por semana e pedidos para trabalhar nas folgas, achando que é perfeitamente viável um trabalhador dez dias seguidos sem descanso, em período de experiência, sem nada escrito e a recibos verdes e ainda passar a mensagem de que se o trabalhador está cansado e não pode aceitar trabalhar na folga ou horas a mais (sem qualquer recompensa) é porque é calão. E que, para além deste trabalhador, há vários outros à experiência. Ganha o que se souber vender melhor a mais barato.
É fantástico como eu já aprendi isto tudo em apenas 3 dias.
Ah, esqueci-me de adicionar que isto tudo seria a troco de um salário de caca, claro. Caca não do género de absurdo, mas do género de uma pessoa aceitar porque fica ali no limite do aceitável.
Pois é, que parva que eu sou.
Foram cinco anos a estudar, a formar-me para a minha área. Se me incomoda trabalhar na área da restauração em vez de trabalhar na minha área? Um pouco, mas conseguir-me-ia adaptar. Mas assim não dá.
Que parva que eu sou, que parvos que somos, por nos deixarmos endrominar por um sistema tão podrezinho em que andamos a perder saúde para supostamente "ganhar a vida".
Como dizia o Dalai Lama e nunca será demais citar esta frase: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."
Esta crise económica fez com que, directa e indirectamente, se atropelassem uma série de direitos anteriormente conquistados a muito custo e que demoraram muito tempo.
E ela tão cedo não me parece ter solução.


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